Por Paulo Eduardo Neves
Mas o que me leva à contundente afirmação de que este é o melhor disco de samba? Afinal de contas, o que não falta é disco de samba bom por aí. Os motivos são vários. O disco coroa a trajetória redentora de Candeia. O antigo policial truculento é baleado, se queda em uma cadeira de rodas, e se torna líder de seu povo. Um dos principais defensores da cultura brasileira, não o fazia apenas na sua arte. Para combater a mercantilização do carnaval arregimentou sambistas de várias escolas para fundar uma agremiação não competitiva, a Quilombo . As participações especiais do disco são estrelares. Cantam as grandes damas Clementina de Jesus e Dona Ivone Lara e os baluartes portelenses Alvaiade, Chico Santana e Manacéa. O coro, peça fundamental nos arranjos, é nada menos que a Velha Guarda da Portela. O repertório é primoroso. Quase todas as músicas são de Candeia, algumas com parceiros como Casquinha, Martinho da Vila e Waldir 59, as demais são de compositores importantes como Alcides "Malandro Histórico", Paulo da Portela, Casquinha, e os imperianos Aniceto e Mulequinho. As canções são fortes lamentos, belas, políticas, cantando a vida de nosso povo, celebrando o Samba e sua arte. Versos de arrepiar, como os de "Pintura sem Arte" em que leciona que "não basta fazer uma linda canção/ pra cantar samba se precisa muito mais/ Samba é lamento/ é sofrimento/ é fuga dos meus ais" e arremata agradecendo à saudade em seu seu peito que o permite compor. Todas as músicas, sem exceção, se tornaram clássicas e são cantadas até hoje nas boas rodas de samba do Brasil. É batucada de primeira. Dos 14 instrumentistas, 9 são percussionistas de elite: Luna, Marçal, Gordinho, Arnô Canegal, Wilson das Neves, Doutor, Carlinhos, Testa, Geraldo Bongô. Completam o time o violão de João de Aquino, o sete cordas de Valter, o cavaco de Volmar, a flauta de Copinha e o bandolim de Niquinho. Mas o principal motivo deste ser o melhor disco de samba já feito é outro. Um velho filósofo alemão ao analisar as primeiras gravações argumentava que elas não tinham a aura das apresentações ao vivo. Quem já participou de uma autêntica roda de samba sabe o quanto isto é verdade. Bom é com todos de pé em volta dos músicos. Quando todo mundo bate palma e canta junto. Quando a plateia também se torna artista. Quando se torna algo mágico. Nunca se capturou tão bem em uma gravação o espírito de uma roda de samba como em "Axé!". E, caraca, que roda! Os arranjos de João de Aquino são estupendos. As músicas emendam uma na outra, sem deixar a animação cair. O coro — a Velha Guarda da Portela! — entra forte nas músicas, nos fazendo querer soltar os pulmões juntos. Se ouve até o barulho das cervejas geladas e dos copos. Ao se colocar o CD para tocar, o feitiço começa. O chão do apartamento vira um terreiro ancestral, no meio da sala crescem a jaqueira da Portela, a tamarineira do Cacique e a mangueira da Estação Primeira. Ouvindo os tambores, nos encontramos dentro desta roda encantada em que a música se torna reza e comunhão. O Mestre nos alerta: "Olha a cadência, olha a cadência…" |
Compre já o seu, sambistas do Brasil, tenha esta obra em casa, original !!!
Tem no site da Americanas, no Submarino, na livraria Siciliano, Saraiva.
abraços, Marcos Tonelotti
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